O BOM SENSO E A DIGNIDADE
Olha como esse texto é atual.
Foi escrito na greve de 2007...
Antes de chamar os professores ao bom senso e cortar os salários,
inclusive, de quem não está em greve, o governo da Bahia deveria
olhar-se no espelho. Veria que o secretário da Administração é um dos
grandes responsáveis pela criação do impasse entre a categoria e o
Governo.
No início deste ano, enquanto o Governador Wagner
sinalizava com a equiparação dos vencimentos dos servidores ao salário
mínimo, Secretário, Manuel Vitório afirmou para toda imprensa que o
impacto para tal equiparação seria de R$ Bilhão e que a Bahia não
poderia garantir esse reajuste. Os professores protestaram no dia 29 de
março, contra este pronunciamento do secretário e logo em seguida, na
mesa de negociação ele apresentou novos números, mais ainda afirmando
que não seria possível a equiparação, e propõe o reajuste diferenciado,
“rasgando” o plano de cargos e salários dos servidores, mas afirmando
que o impacto para equiparação com reajuste linear para todos os
servidores seria de R$703 milhões, (valor que teria então sido majorado
em quase 50% na divulgação anterior). Para surpresa de toda a Bahia, ao
ser aprovado o reajuste diferenciado, é publicado que o impacto seria
de R$230 milhões, menos da metade do que o governo admitiu na mesa de
negociação como incremento possível (533.870.000,00) referindo-se ao
limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Possivelmente, as opções iniciais do sr. Secretário de Ralações
institucionais, Rui Costa e do excelentíssimo Governador, pessoas que
com quem convivi durante quase duas décadas de militância do PT, tenham
sido orientadas por estes números desencontrados da Secretária da
Administração.
Porém, falta de bom senso é numa mesma edição do
diário oficial em os professores são convocados a retornarem às aulas
esteja estampada ao lado da nota, a notícia de que os Estado teve um
superávit de R$834 milhões no primeiro quadrimestre do ano. Falta de
bom senso é querer comparar o reajuste da Bahia com outros estados,
quando na Bahia a folha de pessoal chegava apenas a 41,78% da Receita
Corrente liquida, índice bem abaixo do permitido pela Lei de
Responsabilidade Fiscal que é de 48,60 ou do limite prudencial de
46,17%.
Falta de bom senso é defender a metodologia com argumentos
de que o reajuste médio foi de 12% quando os 26.500 professores que
terão acumulado de reajuste em novembro entre R$29,21(os graduados) e
R$58,41 (os pós graduados) para 20 horas de trabalho semanal, não
poderão pagar suas contas pela média dos reajustes de água,
luz,telefone, aluguel etc.
Falta de bom senso é dizer que o
reajuste de 4,5% está acima da inflação, quando a inflação do ano
passado ficou em 3,3 e a deste ano até maio era de 1.16% o índice que
só será reposto em novembro, quando devemos ter ao mais cerca de 2
pontos percentuais acrescido a inflação do ano.
Bom senso seria o
governador reunir-se com seu secretariado, após uma revisão dos
números, e apresentar uma proposta concreta que possibilite que atenda
o pleito dos professores e possibilite o retorno às aulas. É preciso
entender que mais que salário, o que os professores estão defendendo é
a dignidade de uma categoria que tem a menor remuneração de nível
superior no Estado. É preciso entender que categoria tem informação e
conhecimento suficiente para perceber o que motiva a atual posição do
Governo.
Cesar Carneiro
Pai de alunas de Escola Públicas
Ex-aluno de Escolas Públicas
Professor em Greve, sem salário, mas com dignidade!
(texto escrito durante a greve de professores em 2007)