segunda-feira, 7 de maio de 2012

O BOM SENSO E A DIGNIDADE

Olha como esse texto é atual. 
Foi escrito na greve de 2007...

Antes de chamar os professores ao bom senso e cortar os salários, inclusive, de quem não está em greve, o governo da Bahia deveria olhar-se no espelho. Veria que o secretário da Administração é um dos grandes responsáveis pela criação do impasse entre a categoria e o Governo.
No início deste ano, enquanto o Governador Wagner sinalizava com a equiparação dos vencimentos dos servidores ao salário mínimo, Secretário, Manuel Vitório afirmou para toda imprensa que o impacto para tal equiparação seria de R$ Bilhão e que a Bahia não poderia garantir esse reajuste. Os professores protestaram no dia 29 de março, contra este pronunciamento do secretário e logo em seguida, na mesa de negociação ele apresentou novos números, mais ainda afirmando que não seria possível a equiparação, e propõe o reajuste diferenciado, “rasgando” o plano de cargos e salários dos servidores, mas afirmando que o impacto para equiparação com reajuste linear para todos os servidores seria de R$703 milhões, (valor que teria então sido majorado em quase 50% na divulgação anterior). Para surpresa de toda a Bahia, ao ser aprovado o reajuste diferenciado, é publicado que o impacto seria de R$230 milhões, menos da metade do que o governo admitiu na mesa de negociação como incremento possível (533.870.000,00) referindo-se ao limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Possivelmente, as opções iniciais do sr. Secretário de Ralações institucionais, Rui Costa e do excelentíssimo Governador, pessoas que com quem convivi durante quase duas décadas de militância do PT, tenham sido orientadas por estes números desencontrados da Secretária da Administração.
Porém, falta de bom senso é numa mesma edição do diário oficial em os professores são convocados a retornarem às aulas esteja estampada ao lado da nota, a notícia de que os Estado teve um superávit de R$834 milhões no primeiro quadrimestre do ano. Falta de bom senso é querer comparar o reajuste da Bahia com outros estados, quando na Bahia a folha de pessoal chegava apenas a 41,78% da Receita Corrente liquida, índice bem abaixo do permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal que é de 48,60 ou do limite prudencial de 46,17%.
Falta de bom senso é defender a metodologia com argumentos de que o reajuste médio foi de 12% quando os 26.500 professores que terão acumulado de reajuste em novembro entre R$29,21(os graduados) e R$58,41 (os pós graduados) para 20 horas de trabalho semanal, não poderão pagar suas contas pela média dos reajustes de água, luz,telefone, aluguel etc.
Falta de bom senso é dizer que o reajuste de 4,5% está acima da inflação, quando a inflação do ano passado ficou em 3,3 e a deste ano até maio era de 1.16% o índice que só será reposto em novembro, quando devemos ter ao mais cerca de 2 pontos percentuais acrescido a inflação do ano.
Bom senso seria o governador reunir-se com seu secretariado, após uma revisão dos números, e apresentar uma proposta concreta que possibilite que atenda o pleito dos professores e possibilite o retorno às aulas. É preciso entender que mais que salário, o que os professores estão defendendo é a dignidade de uma categoria que tem a menor remuneração de nível superior no Estado. É preciso entender que categoria tem informação e conhecimento suficiente para perceber o que motiva a atual posição do Governo.

Cesar Carneiro
Pai de alunas de Escola Públicas
Ex-aluno de Escolas Públicas
Professor em Greve, sem salário, mas com dignidade!
(texto escrito durante a greve de professores em 2007)